O rosto perfeitamente harmônico de Yara Sá fotografado por Helena Wolfenson para a revista Marie Claire Brasil em setembro de 2019

Tecno-ancestral

Com um maço de ramos de manjericão, trevo de mulata, jardineira e pataqueira Maria surrava de leve as pernas de sua recém-nascida amarradas com pano de prato na altura do meio das canelas. Uma reza acompanhava o ritual pra desentortar as perninhas da pequena. A preocupação da menina crescer com pernas de chifre de vaca zebu rendeu cinco centímetros de vantagem em altura, quando comparada aos bebês da mesma idade.

Outro remédio era massagem facial com óleo de coco babaçu no nariz. Tudo com hora e local, às sete da manhã, no quintal. Harmonização ancestral, paradoxo às tecnologias de harmonização facial, evento exorbitante, com direito a chá de revelação, espetáculo de faces paralisadas de botox incapazes de expressar a suposta emoção de ver pela primeira vez no espelho o rosto nascido da desfiguração.

Na adolescência, temendo o crescimento de um busto volumoso e do excesso de peso na frente provocar uma corcunda nas costas, Maria ensinou a filha a receita de pôr os peitos num par de xícaras e abafá-los ao nascer do sol. Seios proporcionais, coluna ereta. Deus criou, Maria moldou. A filha era formosa como a mãe, a avó e a bisavó.

(Viana — Brasil — 1984)

Yara Sá photographed by Helena Wolfenson for Marie Claire Brazil magazine at september 2019

(Harmonic face molded by Mary : ))



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