O doce de especiarias
Une Alcântara e Açores
De coco cravo e canela
Traz riqueza de sabores
Seu formato tem nobreza
Que agrada a realeza
Seu aroma tem primores
Rala o coco e põe açúcar
Joga a água e o tempero
Reduz tudo na panela
Fumegando todo cheiro
Uma cocada cremosa
Descansada e formosa
Vai formar belo recheio

Junta trigo, água e sal
Em tigela separada
Umas colheres de óleo
E faz a massa sovada
Para a base do recheio
E do bordado arteiro
Feito em tira delicada
Assado dentro do forno
Exala sua fineza
Segurando no cabinho
Aprecie com chiqueza
De modo imperador
Em um Divino louvor
Ao doce de Sua Alteza

Doce, ruas, construções
Foi o negro quem criou
Da riqueza produzida
Nenhum pouco desfrutou
Ruiu cana e algodão
Acabou-se a escravidão
Ao relento se lançou
Caixeiras, festa e espécie
Simbolismos da cidade
Das mentes e corpos negros
Brotou essa identidade
Do poder são excluídos
Mas da servidão, bem vindos!
Há quem explore bondade
O preferido do rei
Alcântara preparou
Doce em formato de broche
Mas Dom Pedro nem provou
Para muitos tartaruga
Na comparação absurda
Que o tempo perdurou
Hoje o povo faz festa
Simulando toda corte
Celebrando o Divino
Dando destaque pro doce
Viva o Espírito Santo
Viva caixeiras em canto
Ao doce de espécie, ode.

Yara Sá
Autora
Ary Falcão
Ilustrador
A pequena Alcântara-MA se mobiliza durante o pentecostes. Populares enfeitam ruas, casas, igrejas e oferecem banquetes durante a Festa do Divino Espírito Santo. Maior evento no calendário de uma cidade que tem menos de 20 mil habitantes, mas a maior densidade quilombola do país, o Divino tornou-se seu símbolo, assim como o famoso Doce de Espécie. Ambos se fundam a partir de uma lenda e representam a fartura, generosidade e delicadeza dos alcantarenses.
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